segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Balanço de final de ano

Tem uma música do Lulu Santos que diz que a vida vem em ondas como o mar. Vai e vem, sem cansar. Em um dia tudo é bom, no outro algo muda. As dificuldades chegam para nos mostrar o quanto somos capazes. As alegrias servem para nos dar aquele gosto de sim-eu-consegui. E os finais de ano são épocas perfeitas para a gente andar de balanço e ver cada cena da vida ao longo dos quase 365 dias.
No ano passado, decidi que entraria na faculdade, conseguiria um emprego melhor, não gastaria tanto dinheiro em besteiras sem fundamento e tentaria ajudar mais as pessoas. Agora, fazendo o meu balanço, percebo que não fui ingressei na faculdade, estou trabalhando, gastei muita grana em porcarias que não uso e não sei se ajudo tanta gente assim. Por que isso acontece? Por que os nossos planos às vezes descem pelo cano? Falta de firmeza, coragem ou força de vontade?
Acho que é um pouco de tudo e, ao mesmo tempo, nada disso. A vida é tão corrida, o mundo grita lá fora, os universos on e off line nos chamam o tempo inteiro. No meio disso, nos perdemos. Falta o foco. Com tanta coisa acontecendo, a gente acaba se ajustando aos dias. Por vezes, esquecemos de ligar para aquela amiga que mora longe, com a correria deixamos de dar um abraço apertado no pai, fica uma palavra não dita na garganta. E aquela palavra poderia mudar um dia. Quer ver um exemplo? Você vai em uma exposição, vê quadros lindos, deixa de fazer a sua gentileza, não diz para o artista o quanto gostou da obra dele e vai embora. Percebe que existe aí um grande problema? Você alegrou seus olhos por alguns minutos, mas não manifestou seu sentimento. O artista, por sua vez, acaba se achando não querido. E aí começa um ciclo, que existe frequentemente em nossas vidas: a falta de comunicação.
Já percebeu que muito do nosso sofrimento diário seria evitado se a gente dissesse o que sente? É simples. Hoje me sinto bem, tive um sonho bom. Olha, nem fala comigo hoje que acordei com um humor péssimo. Escuta, você podia falar direitinho comigo, ao invés de gritar. Andei pensando, você anda uma amiga muito filha da puta. Meu amor, se você continuar falando assim comigo não vai dar certo. A gente tem que dizer o que sente, esse trabalho ninguém vai fazer por você. Mais do que isso: precisamos dizer o que sentimos para nós mesmos. Todo o santo dia.
Por que insistimos na culpa? Eu devia, eu tinha, eu podia. Descobri uma fórmula para usar em 2014: vou simplificar a minha vida, sem a menor culpa. Se der para fazer, vou fazer. E se não der, tudo bem. Vou me esforçar, tentar dar o melhor de mim, mas sem cobranças. Não dá para carregar dentro da mochila o eu-devia-tinha-podia. É muito peso. No dia 31 de dezembro, ao pular as sete ondas, afogue a sua culpa no mar.
Quanto aos planos, decidi não planejar mais nada. Se tiver que entrar na faculdade, vou entrar. Sem pressões ou coisa parecida, senão a frustração vem fazer visita. Não é bom a gente se cobrar tanto, vivemos em um mundo louco onde você tem que ser. Tem que ser legal, tem que ser bonito, tem que ser magro, tem que ser inteligente. Por isso, as auto-cobranças. Tenho que ser assim e assado. Isso não faz bem, eu sou diferente de você, nunca terei suas qualidades, em contrapartida, você também nunca terá as minhas. Cada um com suas particularidades, dores e alegrias.
Em dezembro, todo mundo elabora listinhas (mentais ou não) com direito a vários tópicos importantes: o que fez de bom ao longo do ano, se cumpriu todos os tópicos da lista passada, se aprendeu a trocar lâmpada, se teve mais paciência com a sogra, se realizou todas as fantasias sexuais, se conseguiu não falar mal dos outros durante 24 horas seguidas. Então, eu me pergunto: o que adianta fazer uma lista enorme em dezembro se em janeiro a gente já coloca a bendita na gaveta? 
Já fiz muitas listas, e confesso que não consigo me livrar delas tão fácil. Mas hoje eu tenho a percepção de que se alguma coisa não for feita, tudo bem. Sou humana, erro, acerto, acredito em comerciais de shampoo, simpatias, que o rabo da lagartixa cresce de novo, que existe um crime milagroso para celulite e que ainda vão inventar uma cápsula que você toma e no outro dia acorda com a bunda dura.

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