quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Eu sou criança e vou crescer assim. Gosto de abraço apertado, sentir alegria inteira. Inventar rumos, inventar amores. O simples me faz rir, o complicado me aborrece. O mundo, pra mim é grande. Não entendo como olho um planeta que gira sem parar, nem como funciona um fax. Verdade seja dita, entender eu entendo. Mas não faz diferença, os dias passam rápido. Existe a tal gravidade, papeis entram e saem das maquinas. Ninguém sabe ao certo quem descobriu a cor. Tem coisas que não precisam ser explicadas, pelo menos para mim. Eu tenho um coração maior que eu. Nunca sei a minha altura. Tenho o tamanho de um sonho, e o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo de baixo da cama, pra eu descansar a alma dormi sossegada. Coragem eu tenho um monte, mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de jornal nacional, tenho medo de lagartixa branca. Tenho medo das pessoas, tenho medo de mim. Minha bagunça mora aqui dentro. Pensamentos dormem e acordam. Nunca sei a hora certa. Mas uma coisa eu digo, eu não paro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta. Eu sei aonde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou! Sempre me pergunto quando falta, se está perto, com que letra começo, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre questiono. Se você está feliz, se eu estou bonito, se eu vou ganhar estrelinha, se eu posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim. Eu não gosto de meias palavras, gente morna e nem de amar em silêncio. Eu aprendi que palavra é igual à oração. Tem que ser inteira, porque senão perde a força, e força não há de faltar. Porque aqui dentro, eu carrego meu mundo. Sou menina levada, criança crescida com contas pra pagar. E mesmo pequena eu não deixo de crescer, trabalho que nem gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega à hora do recreio aí vou eu. Escrevo escondido, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. E eu amo. Amo igual criança, amo com os olhos vidrados. Amo com todas as letras, a-m-o! Sem restrições, sem medo, sem frases cortadas. Quer me entender? Não precisa. Quer me fazer feliz? Me dê um chocolate, um bilhete, um brinde que você ganhou e não gostou, uma mentira bonita pra me fazer sonhar. Não importa! Todo dia é dia de ser criança. Criança não liga pra preço, pra laço de fita, nem cartão com relevo. Criança gosta mesmo é de beijo, abraço, surpresa. E eu como boa criança que sou quero mais é rasgar o pacote.
Fernanda Mello - Crônicas Digitais: Criança

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